quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Eqüi-Libra



Eu amo muito. 
Eu amo pouco.
Eu sou jovem. 
Eu sou velho.
Eu sou.
Eu não.
Par ou ímpar? 

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Queria ter nascido em alguma ilhota no meio do Oceano Pacífico. Daquelas sem muitos habitantes, em que se vive de subsistência, com céu azul e algumas tempestades de acabar o mundo. Ou queria ter nascido sem sonhos, eles pressionam. Não aguento mais a ilusão de liberdade que sufoca. É complicado não ter a pacificidade e um alvo sem ter pernas suficiente pra correr atrás. 

sábado, 7 de setembro de 2013

Parece que eu não respiro.
Inflo dois balões dentro de mim
Deixa voar!

Quando a alma infla.
Transpõe os limites da pele
Deixa voar!

Perco a hora.
Ganho emoções
Sinto.
Me leve pra voar...

tem dias que eu fico tão eu lírico que deixo de existir.
o mundo é tão maior que eu.
tantos pacíficos, índicos...
pra que ser passivo diante dos indícios?
me deixa engolir o mundo, brincar com ele no garfo
sem etiqueta, me deixa voar.
quero sentir, sente comigo?
deixa eu te ensinar?
me deixa te engolir?
me voa?


sábado, 31 de agosto de 2013

Coruja

Eu gosto de escrever no escuro. A sobrecarga nos olhos é compensada por uma dança solitária da ponta da caneta, traçando palavras em seu rastro suave de culpa por não ser pena. Sem erros, aparentes. Também gosto de escrever no escuro porque é nele que as coisas me vêm. É quando o sol se apaga que a minha alma cintila. É na penumbra que espero, que anseio, que enfim respiro. Dispo minhas máscaras, no escuro nada é feio. 


domingo, 11 de agosto de 2013

Lótus




     Tô carregando no lugar da derme um carpete azul de lótus. Tenho sentido tudo. Uma maré de vento que desvirtuada do seu caminho entra em contato com a minha pele, me liberta das correntes que não existem. Quero mais. Quero chuva, vento, raio, água, fogo. Quero sentir. Quero ser livre. Sei que não pertenço a ninguém, nem a mim mesmo, e que nenhum lugar me pertence. Eu sou um ser humano. Tenho o dom de raciocinar. Só não tenho o dom de ir contra a sociedade e raciocinar coisas que eu quero e não coisas que eu devo. Sonho. Sei que alcançarei. Mas ainda, minha vontade febril não se aquiesce com a conjugação do verbete no futuro. Quero agora! Tenho fome! Tenho sede! O chão em que piso, pode não estar mais aqui amanhã. Tenho que aproveitar cada molécula de oxigênio que adentra meu ser. Sou nada e quero tudo. Sou um pequeno grão de areia no deserto que é o universo. Tudo é tão pequeno, comparado às possibilidades. Preciso alinhar os chacras e conectar-me ao mundo exterior. Acordar e ter de ser feliz com o pouco que me dão. Não quero ter essa vida pré-moldada. Não quero nem queijo, nem faca, tampouco a fome: quero Adélia.

domingo, 28 de julho de 2013

Morto! Vivo! Vivo! Vivo! Morto! Vivo! Vivo! Morto! Morto!

Ando meio perdido, meio que não andando ou andando em círculos. Ando meio tonto, mas sóbrio como nunca estive. Ando meio enjoado. Ando meio intimista, porém vendo a situação por fora. Ando meio bagunçado, meio desorganizado, assim como a minha cama. Ando sem ânimo pra arrumar, ando meio sem ânimo para reclamar, para rir, para sentir dor. Ando adiando tudo com a pontualidade inglesa. Ando meio novo, saindo da fábrica, mas com a validade vencida. Ando meio cheio de tantas incertezas previsíveis e invontades irresistíveis. Hora de apertar o restart querendo o game over

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Em meu nome e em nome do meu espírito.

No silêncio daquele quarto. Na luz natural do fim de crepúsculo, eu deixei cair uma lágrima no papel fino da Bíblia. Milhares de palavras direcionadas e selecionadas para atacar o meu exímio ser. Como é possível os séculos de vivência irem por água abaixo com a minha existência? Por quê fui criado pelo Senhor desse jeito? Contrariando tudo o que ele construiu. Crueldade. 

domingo, 21 de julho de 2013

Inferno sem-começo-nem-final

Chegou em casa e com um sopro tirou a franja que caía-lhe sobre o olho, já passara a hora de aparar o cabelo. Era tarde. O dia foi cansativo, importante, cheio. Com um ato mecânico, abriu a porta da geladeira e virou aos goles a garrafa de água mineral, mas não estava com sede. Não estava ali. Começou a despir-se ali na cozinha mesmo, não carecia pudor, morava só. Morava com sua sombra. O banho quente não fazia efeito ao seu corpo frio. Ainda assim era possível distinguir as gotas que se jogavam de seus claros olhos das que caiam da máquina. Quem era a máquina? A quem cabia a possibilidade e o direito de errar? De humano ali só as lembranças de um passado que se perdeu e o medo do que havia de vir.

terça-feira, 16 de julho de 2013


nossos corpos formam feixes de luz
se caímos em valsa não importo que a desgraça
seguindo suas mãos e pés a torcer
tão lindo!
pobre nossos corpos
encontrados
entortados
no fim!
dançamos até não sobrarem restos de nós

quinta-feira, 4 de julho de 2013

escafandro




(Leminski, Paulo)

Proteja, amor
Até o último suspiro [pausa rápida para respirar]
Este fôlego
Naufragado em tantos beijos
E proteja sobretudo
O aqualung que eu te dei
Ele é a nossa garantia
De oxigênio até o fim...
Um escafandro dá pra dois
E se tua mãe quiser morar, eu deixo
Faço minha exigência:
Vá dormir quando eu te beijo...
Proteja, amor...

segunda-feira, 1 de julho de 2013

rabiola

tarado é toda pessoa normal pega em flagrante
Nelson Rodrigues 

Foto: Graziella Schmitt

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Menina bonita bordada de flor,
Pelo amor aos caminhos que te trouxeram até aqui, não te desnorteie. Se tem uma pedra no meio do caminho, faça um poema. Sorria. Não porque tens de sorrir, e sim porque a vida te faz sorrir. Sei que você com um dos milhões de sentidos que tem, além dos humanos, consegue perceber as graças da vida. E nem se dá conta, que é a graça da minha vida personificada e bordada de flor. 

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sé que tus labios me hablan, pero no los puedo oír, ya no. Estás muy lejos de mí. Lo peor es que fui tan cobarde que no pude decirte que para mí no hay vida más allá de ti. Y aunque no estés, vives en mí. Te necesito. Contigo aprendí a ser feliz y desde que te perdí, no sé como sobrevivir... Le pido al cielo, a la luna, a las estrellas: vuelve, vuelve a mí. Jamás podré olvidar. Y después de tanto tiempo, aun me robas el sueño, la respiración, el aliento... Además de todo, tu fue mi luz entre tinieblas, ya no sé como volveré a ver sin ti. Vuelve!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Avestruz


Eu sabia, não ia me adaptar. Só que a vontade era tão grande, o mundo tão pequeno, que fui. Mais com a cara do que com a coragem. Havia muitas sombras naquela caverna, e das sombras, em mim se fez a luz. A alegria veio, a felicidade, o amor, a cumplicidade. Não ia me adaptar. Hoje a roupa que visto é de um número menor, o calçado me aperta tanto, aperta o coração. Eu sabia, mas só agora começou a me doer. Vontade de sair correndo. Mergulhar na minha imagem refletida na água, ir de cara com o espelho. Ser mais o que sou, ter mais de quem sou. Ficou caro demais pagar o preço de ser quem querem que eu seja. Não me encaixo mais. Eu sabia. Não dá pra voltar atrás, não dá pra acelerar. A lâmpada do fim do túnel está  desligada por enquanto. Hei de ir, tateando com cuidado, respirando com calma. Cada tropeço pode ser letal. 

domingo, 16 de junho de 2013

1976

ah se pelo menos
eu te amasse menos
tudo era mais fácil 
os dias mais amenos 
folhas de dentro da alface

mas não 
tinha que ser entre nós 
esse fogo
esse ferro
essa pedreira
extremos 
chamando extremos na distância.


LEMINSKI, Paulo. Toda Poesia. Página 355. Companhia das Letras. 1ª Edição. 

Domingo

Válvula de escape. Aquele encontro marcado com si próprio que há muito vem adiando. Vem com o sol, um cheiro de terra molhada com a água que você jogou contra o sol só pra ver o arco-íris. E viu. O cheiro de sumo de mixirica colhida do pé. Você e você, sentados ali, onde Veneza deixava a cada primeira sexta-feira do mês - recesso sagrado para reunião de professores. A terra aterra seus medos, começando pelos dedos. Azedinho. Ponto de decolagem para seus sonhos.  


sexta-feira, 7 de junho de 2013

Contranarciso

em mim 
eu vejo o outro
e outro
e outro
enfim dezenas
trens passando
vagões cheios de gente
centenas

o outro 
que há em mim 
é você
você
e você

assim como
eu estou em você
eu estou nele
em nós
e só quando 
estamos em nós
estamos em paz
mesmo que estejamos a sós


Paulo Leminski


domingo, 26 de maio de 2013

Imbróglio

Quando Ismália me enlouqueceu
Pus-me na torre a chorar
Havia estrelas no céu
Havia brilho no olhar 



domingo, 5 de maio de 2013


   Não fico mais aflito por saber que nada sei. O que é? De onde veio? Para onde? São perguntas cujas respostas não me interessam. O tempo não precisa ser medido; essa frase tem ficado muito tempo na minha cabeça. Não existe diferença entre verdade e mentira, nem a possibilidade de encontrar o bem e o mal; não sei por que catso comecei a pensar nisso. Não fico alegre, nem triste. Há muito não dou uma risada, nem choro. As palavras não significam nada. Meu corpo se curvou pra frente, cansado, desiludido. Não consigo entender o sentido da minha vida. Não consigo entender nada. E isso não me comove mais. Os homens fizeram a sua própria história, mas não imaginaram onde iriam desembocar.





Blecaute - RUBENS PAIVA, Marcelo. Editora Brasiliense. 1988

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Little Manhattan

   Às vezes eu queria ser um R. Sei lá, é uma letra bonita, uma letra decidida que sabe o que quer e faz acontecer, inspirada e inspiradora, tem as palavras certas para acalmar qualquer eu desavisado... Só que é tão bom ser D, todo barrigudinho, simpático, fechado, mas cheio, como se fosse uma alça esperando uma mão a levar pro mundo, sem muito medo de ter medo, porque sempre depois vem um E, que como um pente de três dentes me acalenta com um cafuné. E qualquer semelhança, pode ter certeza, é mera coincidência. 



quinta-feira, 25 de abril de 2013

Caleidoscópio


   Eu não sei falar francês, não sei fazer biquinho. Ouço uma sinfonia de ruídos, não faço música por conta própria. Não ronco, na verdade minha unha é encravada. Às vezes eu não gosto de tomar banho, às vezes eu gosto. Não vejo a hora de sair sem rumo, procurando o meu rumo. Não tenho medo de baratas, nem nojo, convivo bem com baratas. Sou palhaço, mas não conto piadas. Sorrio muito, mas é muito difícil me fazer dar gargalhadas. Bebo no gargalo. Não tenho nenhum charme, só carmas. Gosto de cheiro de roupa de cama limpa e adoro sujar. Não sei nem desenhar nem dar estrelas. Aprendi a ler muito novo e desde lá não esqueci. Esqueci como que anda de bicicleta. Tropeço e não disfarço. Faço birras. Não como legumes se me mandarem. Sou chato. Sou feio. Sou acostumado com o que eu sou. Quase não tenho cicatriz, nem infância. Assisto filmes, torneiras pingando e a vida passar. Eu me sento torto e você, como se sente?



Outra faca, outros gumes


  Querido Diário.

   Até você é mais querido que eu, você pelo menos tem alguém em quem confiar, sabe que toda noite venho aqui, com a maquiagem borrada de tanto chorar pra chorar mais um pouco, mas eu não posso confiar em você! Você não tem critérios pra quais digitais você pode mostrar seu conteúdo, eu ainda tenho. Na verdade tinha.

   Passei a minha vida inteira repetindo pra mim mesma ‘NÃO CONFIE NAS PESSOAS’, cresci sozinha, andei sozinha, descobri o mundo sozinha, vivi auto-suficiente. Mas aí, ao primeiro sorriso e quando eu pela primeira vez ouvi a palavra ‘amiga’ sendo direcionada a mim, me pareceu tão sincero, e me abri. Me abri como se fosse um jornal pronto pra ser lido por algum velhinho simpático na praça. Ela me leu, me conhecia, conhecia meu passado, meu futuro, e o pior, conhecia o presente.

   Meu presente não é uma dádiva, estou em fase de crescimento, de acertar pouco e errar muito... Ou melhor, independente de estar acertando ou errando, eu estou vivendo, e ninguém deveria se preocupar com meus atos, até parecem que nunca erraram... 


   Não consigo aceitar o fato de que as pessoas são más, então gosto muito da idéia que foi por acidente, que ela não teve a intenção de acabar comigo, por mais que os indícios levem à outra conclusão... Corro sérios riscos. Corro até o risco de ficar bem, de dar a volta por cima, de mostrar quem é que eu sou de verdade, mas por ora não tenho forças, nem preciso fazer isso. Sei quem eu sou. Enquanto isso, vou mastigando o gelo que estou te dando junto com todo o sentimento que eu tinha por você, talvez eu engula tudo, ou talvez eu cuspa tudo na sua cara, se você fosse realmente esperta como acha que é, não teria feito o que fez.  Amizade não é nenhum cristal que quando quebra... Não! Cristais pelo menos existem!

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Ponta do iceberg


  Sabe aqueles insetos que na primavera invadem o seu quarto e ficam rodeando a lâmpada? Sou mais ou menos assim na vida, fico buscando uma luz... Só que as luzes se apagam, e eu perco meu rumo. Aliás, eu não faço a menor ideia do que eu to fazendo com a minha vida. Se algum dia eu pudesse dialogar com minha versão criança, acho que eu teria orgulho do que me transformei, mas se eu pudesse encontrar com o meu futuro, provavelmente teria vergonha de algumas decisões que eu tomei pra me tornar o que eu serei. Mas dizem que é assim mesmo, você só aprende quando erra, só levanta quando cai... Você cresce com algumas escoriações e esfolados, mas cresce. Será que vale a pena chegar ao destino independente do caminho?

terça-feira, 23 de abril de 2013

Cena 6 - Tentativas

RICARDO -

   Eu não te conheci como costumam se conhecer os amantes que têm assim mais ou menos a nossa idade. Você não olhou pra mim na luz confusa da pista de dança, nossos olhares não se raptaram, nós não conversamos a conversa dos que se querem.

   Me desculpa.

   Daí eu não te sorri sorrisos interessados nem fiz meu corpo falar coisas que a boca geralmente cala. Eu não te dei um primeiro beijo, nem um segundo, nem um terceiro. Depois eu não te dei meu telefone na expectativa de marcarmos outro encontro.

   Por isso nós jogamos o jogo da sedução: eu não te mandei mensagens discretamente tomadas pelo primeiro encantamento, não te convidei pra sair, então nós não fomos ao cinema nem tomamos café depois do filme. Não ficamos conversando sobre gostos artísticos, emotivos e tudo mais que descobrimos em comum, enquanto o café não vinha. Nós também não percebemos, sem dizer, afetos e carinhos discretos e mútuos. Eu não fiquei tentando prolongar o tchau só pra passar mais alguns minutos perto de você.

   Me desculpa.

   Nós não trocamos as palavras irresistíveis e ridículas das cartas de amor, de modo que eu não antevi nosso relacionamento, não fiz planos para um futuro que te incluía, não pensei nos lugares para os quais poderíamos viajar, não me satisfiz com a ideia das peças e dos shows que veríamos juntos ou nem sequer das músicas que poderíamos compartilhar.

   Eu nunca te mandei uma música de amor.

   Me desculpa.

   Nós não demos risada um do outro por motivos bobos, não nos achamos um casal bonito nos olhando no espelho, não tiramos fotos, não inventamos apelidos especiais e bestas, não fizemos piadas internas, não sentimos ciúmes, nem nos queremos com exclusividade.

   Nada disso aconteceu entre nós.

   Então me desculpa. Me desculpa por estar dizendo isso aqui neste carro, bêbado, a esta hora da madrugada, de repente, desse jeito. Me desculpa por estragar a nossa relação, ou pelo menos essa relação que você devia achar que a gente tinha e a gente tinha mesmo só que em mim era diferente e incontrolável.

   Mas te vendo hoje beijando ela, o míssil que me devastou me disse que eu não conseguia mais - já é uma dor física. Me desculpa.

   Agora, se nada disso nunca aconteceu com você, por que eu fui me percebendo apaixonado por você, sozinho? Eu não sei. Mas, se eu tivesse que supor, diria que essa convulsão que eu chego a sentir no estômago feito cólica, ao mesmo tempo que é um sentimento meu, deve ser também um mérito da pessoa que você é. Como se, com tanta gente desinteressante no mundo, a presença de alguém tão especial só pudesse gerar essa resposta, só pudesse ser retribuída com paixão.

   E amor assim, tão espontâneo e tão imprevisto e que vive ganhando tão pouco em troca, deve ser no final das contas pelo menos um sentimento bom.





Música Para Cortar Os Pulsos (monólogos sentimentais para corações juvenis) - GOMES, Rafael.  Leya. 2012.