sábado, 31 de agosto de 2013

Coruja

Eu gosto de escrever no escuro. A sobrecarga nos olhos é compensada por uma dança solitária da ponta da caneta, traçando palavras em seu rastro suave de culpa por não ser pena. Sem erros, aparentes. Também gosto de escrever no escuro porque é nele que as coisas me vêm. É quando o sol se apaga que a minha alma cintila. É na penumbra que espero, que anseio, que enfim respiro. Dispo minhas máscaras, no escuro nada é feio. 


domingo, 11 de agosto de 2013

Lótus




     Tô carregando no lugar da derme um carpete azul de lótus. Tenho sentido tudo. Uma maré de vento que desvirtuada do seu caminho entra em contato com a minha pele, me liberta das correntes que não existem. Quero mais. Quero chuva, vento, raio, água, fogo. Quero sentir. Quero ser livre. Sei que não pertenço a ninguém, nem a mim mesmo, e que nenhum lugar me pertence. Eu sou um ser humano. Tenho o dom de raciocinar. Só não tenho o dom de ir contra a sociedade e raciocinar coisas que eu quero e não coisas que eu devo. Sonho. Sei que alcançarei. Mas ainda, minha vontade febril não se aquiesce com a conjugação do verbete no futuro. Quero agora! Tenho fome! Tenho sede! O chão em que piso, pode não estar mais aqui amanhã. Tenho que aproveitar cada molécula de oxigênio que adentra meu ser. Sou nada e quero tudo. Sou um pequeno grão de areia no deserto que é o universo. Tudo é tão pequeno, comparado às possibilidades. Preciso alinhar os chacras e conectar-me ao mundo exterior. Acordar e ter de ser feliz com o pouco que me dão. Não quero ter essa vida pré-moldada. Não quero nem queijo, nem faca, tampouco a fome: quero Adélia.