domingo, 30 de novembro de 2014

plural

Ele a conheceu durante um "muito obrigado" numa despedida em um dia qualquer depois do almoço. O cardápio não foi importante. A data não é lembrada. No entanto, foi um dia especial. É estranho esse movimento migratório da vida. Pessoas vão, pessoas entram. E é mais estranho ainda o quão o mundo é lindo. Entre sete bilhões de pessoas, a vida fez um tropeçar alma do outro. Nunca antes um prefixo foi tão duradouro: pré. 

Agora que te conheço. E que saio catando cavaco na sua alma todo dia. Posso afirmar, com um pouco mais de certeza que adoro a sua simplicidade complexa. Admiro sua alma que não cabe no seu corpo. Adoro quando sua alma entra nos outros corpos. Sua risada ecoa. Ecoa. Ecoa. Sua visão de mundo é um óculos que sempre quero enfiar na cara. Talvez seja isso mesmo, tenho um problema de vista. Preciso ver o mundo com outros olhos. E que lentes bonitas as suas. 

Acho que no fundo, mas bem no fundo mesmo, seu poema é só poesia. Eu nem tenho a ilusão de ter sua matéria por perto num futuro não tão longe. Mas já é metafísico. Se eu fosse um texto, você seria um marca-texto. Não tem solução, tudo em você é plural e isso é muito singular. Plural. Plulaura. 




terça-feira, 25 de novembro de 2014

eu atravesso

Eu atravesso o estado. Atravesso meu estado físico, não importa o dia que carrego nas costas e nas pálpebras. Atravesso meu estado geográfico, porque a história de Minas não supera a história que eu imaginei pra nós, porque a sua beleza é maior que todas essas montanhas e porque a sua cachoeira é outra. Eu atravesso meus sentimentos, porque agora não são meus, são nossos. Mas você nem sabe. Eu gasto. Gasto meu tempo pensando, imaginando, iludindo, mas não sei gastar o tempo de outra forma desde que comecei. Gasto meu dinheiro, porque se o dinheiro traz felicidade é essa a felicidade que ele deve trazer. Gasto minha sola de sapato, atravesso o mundo pra te encontrar. Mas já te encontrei. Na verdade, não sei não te encontrar, você está em todos os lugares. Você está em mim acima de tudo. Eu volto. O longe é só um lugar onde a gente nunca vai. Mas eu volto. Faço ser perto. Eu morro. Eu sempre vou morrer. Então, acho melhor aproveitar a vida e dar vários últimos suspiros. Quero que você realize os meus primeiros últimos desejos. Eu sou. Sou pós-dramático, saindo da inércia, querendo ser. Sou você, mas de uma forma que não se é. Porque somos dois. Mas somos um. Eu atravesso o mundo para te pagar um café e te dar um colar. Eu abro. Eu abro a minha mão para você ler o meu futuro. Ou abro a mão pra você fingir que sabe ler o futuro só para eu rir da sua risada. Eu abro minha vida. Abro minhas cicatrizes. Eu descubro. Eu descubro os meus podres escondidos. Eu descubro o Brasil. Eu descubro quem eu sou. Eu descubro quem você é. Eu ouço. Eu ouço os pássaros cantarem com os seus ouvidos. Sua sensibilidade ficou impressa em mim. Eu sinto. Não sei como você se sente. Tá tudo bem? Eu danço. Eu danço sem música. Eu danço qualquer música brega que possa te entreter. Eu danço na chuva. Eu danço nesse jogo. Eu perco. Eu me perco. Eu só não te perco porque não te tive. Eu bebo. Eu bebo o copo de veneno em cima do piano, eu bebo a bebida da festa do seu aniversário, eu bebo a água que escorre dos seus olhos. Eu correspondo. Eu até respondo. Eu me transformo. Eu me transformo em letra e ponto. Eu sei. Eu sei a poesia das palavras. Mas não conheço a métrica do seu corpo. Seu ritmo combina com meu? Eu sei a verdade por trás do teatro. Mas só queria ser um personagem. Eu sei o que eu quero. Eu quero. Eu quero. Eu que nem gosto de café. 


domingo, 23 de novembro de 2014

Humildade (1954)

Cecília Meireles

Tanto que fazer!
Livros que não se leem, cartas que não se escrevem,
Línguas que não se aprendem
Amor que não se dá
Tudo quanto se esquece.

Amigos entre adeuses,
crianças chorando na tempestade,
cidadãos assinando papeis, papeis, papeis...
até o fim do mundo assinando papeis.

E os pássaros atrás de grades de chuva
e os mortos em redoma de cânfora

(E uma canção tão bela!)

Tanto que fazer!
E fizemos apenas isto.
E nunca sabemos quem éramos 
nem para quê.


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

arte

uma vez eu li que só se pode renunciar o que se tem. não se pode renunciar do que se é. mesmo que você tente. mesmo que você queira. você é. talvez eu seja. sem glamour. em construção. bruto. sendo. arte.

sábado, 1 de novembro de 2014

Resoluções de ano velho

. achar sete ondas para pular
. cantar na chuva de novembro
. devolver cada energia a seu dono
. comprar um t
. rir das cicatrizes
. procrastinar
.
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