terça-feira, 11 de agosto de 2015

tentativa

eu odeio ter que escrever sobre você. eu odeio porque eu não consigo passar as sensações que você me passa pro papel, eu não sei te descrever sem parecer um lunático, um adicto. não existem palavras no meu vocabulário que podem lidar bem com essa tarefa, aliás eu preciso muito andar com um dicionário por aí pra ver se todos esses sentimentos que rasgam o meu peito de uma forma doce têm nome, sinônimo, antônimo eu já sei que não tem. você é isso. é essa ruptura do significado no plano do significante, ou o contrário nunca entendi direito o significado de significado, eu sei o que você significa e isso pra mim tá de bom tamanho. só que aí vem a vontade de gritar pro mundo, mas gritar como? eu não sei tocar violão e nem tenho uma voz maravilhosa, isso ajudaria. talvez meu grito venha dos meus gestos, dos meus olhos brilhando enquanto você toca violão e canta com a sua voz maravilhosa, talvez seja o jeito que eu coço o nariz quando to sem paciência para as coisas que o mundo trata como urgência e eu entro na dele. eu ainda tenho que ler muito, tenho que me alimentar e tenho que ser muito artista pra tentar escrever sobre você. mas ainda assim, escrevo. essas migalhas de palavras que eu solto por aqui ou por ali é o alívio que me resta, ainda que muito torto. alívio desse punhado de coisas boas que você me passa, que na verdade não é alívio nenhum é só alive. 

Fase Catarse - Pedro David


das vantagens de não morar em ouro preto

é só tomar um supetão e ir correndo pra rodoviária, a passagem não custa muito. fora que o custo benefício é muito mais benefício que custo. aí, é como se em pouco mais de uma hora e meia você fosse transportado para outra dimensão. uma dimensão inspiradora, de onde brota um cheiro de chocolate quente por entre os ventos frios. uma dimensão na qual começa a tocar uma música de um violino enquanto você olha o pedaço de matéria que você mais ama do outro lado da rua. namorar em ouro preto tem que ser árcade, tem que ser um do lado da ponte e o outro da outra. tem que ficar injuriado de vergonha quando os olhares se encontram e nem com toda a força do seu corpo e da sua alma você consegue controlar o sorriso involuntariamente voluntarioso que rasga seu rosto. a vantagem de não morar em ouro preto é se encantar cada vez que se vai lá. é descobrir uma rua nova com teatro de bonecos, é descobrir um brilho nos olhos de quem faz os seus brilharem. é entrelaçar os dedos quando as almas já, há muito, se entrelaçaram. nenhuma fotografia é capaz de captar o que ouro preto emana. 

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

cuidado frágil

. nunca fomos uma caixa. Nossa concepção foi descabida, despretensiosa e emergencial. No meio do escuro fez-se a luz. E sabíamos. Momento único. Era perceptível. É perceptível. A gravidade é a atração de dois corpos, um interagindo com o outro. O celulares são, milagrosamente, aparelhos que fazem uma ligação entre dois corpos longes. Estamos cercados de ligações. Mas nenhuma importa mais que a nossa.