quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ermida, 2016


(talvez) Inacabado III

   Existe um ser que desperta naquele que vira pro lado pra dormir mais um pouco. 

novelo

Não é questão de comodismo, mas é que a bagunça é o nosso estado de ordem. A sociedade não entende, não vai entender e nem precisa entender.

Tem, mas acabou.

É dezembro. Os shoppings estão lotados. A saída está grande. E eu, na verdade, não sei lidar.

a mão grossa do pedreiro

Ele era pedreiro antes de ser gente. Teve um pouco de sua infância roubada e muito dos seus estudos afetados. Era pedreiro. Mas não era pedreiro porque precisava. Seria qualquer coisa, aprendia de tudo e muito facilmente. Era pedreiro porque as casas precisavam se construir com ele para serem lares. Só a mão dele fazia isso. Era uma mão grossa, com calos, com rachaduras e meio cinza da cal e do cimento.

A mão escrevia bilhetinhos e os colocava dentro de caixinhas de fósforo para a moça bonita enamorada ler escondida. Essa mão acariciava os cabelos da moça e também arrancava flores do jardim da igreja amarela. Às vezes ela levava um cigarro na boca do pedreiro para fazer charme. James Dean fez escola e topete. A mão e o braço eram símbolos de masculinidade. Não tinha mocinha nenhuma que não suspirava.

inacabado II

A mãe da Laura é uma pessoa que eu não conheço, mas que mesmo sem eu me apresentar já sabe meu nome. E que me atende no telefone eventualmente.

dois coelhos e uma caixa d'agua

Deve ser difícil nascer com um fardo. Um nome que é mais um título. Sem direito de escolher. Nome é igual signo, não tem como escolher, você aceita e engole. Gostando ou não. Meu nome é estranho e tem um significado etimológico estranho, mas talvez pelo meu signo eu não me apego muito nisso. Já o seu nome é um rótulo, desses meio clássicos, meio que você conhece de longe. E que você faz jus. Você é dessas que quando entediadas numa tarde de calor inventa um coelho correndo por aí, para te levar para universos nem tão paralelos assim. E, sorte a dos coelhos. Se mudasse uma letra aí, você seria dos quadrinhos, das marias e das flores. E ainda assim seria bom. Seu tamanho é regulado por garrafinhas em cima de mesas.

Ode ao desalento


Eu tenho aprendido a não ter pressa. Sei que, por mais que me doa muito pensar nessas palavras, ainda tenho todo o tempo do mundo. Tenho aprendido também que se pode ser feliz independente do lugar ou da circunstância. E que os pequenos detalhes da vida devem ser degustados. A vida é só um pequeno detalhe no fim das contas. Tenho aprendido. Mas por dentro sei que isso tudo é muito teórico. Eu sei jogar o jogo do contente ou, como a neurolinguística diz, sou apto a fazer o ressignificação de conteúdo.

inacabado I

Adélia Prado acalma e aquece. Esqueço do mundo e dos meus medos quando leio os dela. Eu não gosto muito de me expor, mas tenho um blog. Não como muito em público, mesmo que o público seja as pessoas que moram comigo.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Ruffo

Ei.
Olha pra mim.
Só um pouco.
Só o suficiente pra eu sorrir.
Sei lá.
Faz umas piadinhas ruins.
Dá falsas esperanças.
Não precisa nem ser verdadeiras não.
Vai me colocando devagarinho na sua vida.
Me apresenta seu mundo.
Só que olha pro meu também.
Só um pouco.
Só um suficiente.
Nem um pouco?
Nem o suficiente?
Então tá.
Depois a gente conversa.