quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Poesias Mineiras Definitivas (fevereiro de 2017)

Eu tô fazendo essa postagem aqui só porque eu vou estar viajando por muito tempo e não sei se vou precisar de ler Adélia Prado, Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes nesse meio tempo e não vou estar com os livros por motivos óbvios de peso. Aí, é fácil. Essa seleção são dos poemas que eu acho que tenha mais probabilidade de eu precisar.

Adélia Prado
Louvação para uma cor
O amarelo faz decorrer de si os mamões e sua polpa,
o amarelo furável.
Ao meio-fia as abelhas, o doce ferrão e o mel.
Os ovos todos e seu núcleo, o óvulo.
Este, dentro, o minúsculo.
Da negritude das vísceras cegas, 
amarelo e quente, o minúsculo ponto, 
o grão luminoso.
Distende e amacia em bátegas 
a pura luz de seu nome,
a cor tropicordiosa.
Acende o cio,
é uma flauta encantada, 
um oboé em Bach.
O amarelo engendra. 

Roxo
Roxo aperta. 
Roxo é travoso e estreito.
Roxo é a cordis, vexatório,
uma doidura para amanhecer. 
A paixão de Jesus é roxa e branca, 
pertinho da alegria. 
Roxo é travoso, vai madurecer.
Roxo é bonito e eu gosto.
Gosta dele o amarelo. 
O céu roxeia de manhã e de tarde, 
uma rosa vermelha envelhecendo.
Cavalgo caçando roxo,
lembrança triste, bonina.
Campeio amor pra roxeamar paixonada,
o roxo por gosto e sina. 

Aura
Em maio a tarde não arde
em maio a tarde não dura
em maio a tarde fulgura.

Tentação em maio
Maio se extingue
e com tal luz
e de tal forma se extingue
que um pecado oculto me sugere:
não olhe porque maio não é seu.
Ninguém se livra de maio.
Encantados todos viram as cabeças:
Do que é mesmo que falávamos?
Da tua luz eterna, ó maio,
rosa que se fecha sem fanar-se.

Murilo Mendes
"eu estou no meu corpo" - Panorama

Reflexão Nº1
Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho
Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio
Nem ama duas vezes a mesma mulher
Deus de onde deriva
É a circulação e o movimento infinito.

Ainda não estamos habituados com o mundo
Nascer é muito comprido.

Drummond
"Tenho apenas duas mãos 
e o sentimento do mundo"

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Dougla's Creek

I don't want to wait for our lives to be over. I want to know right now what will it be. I don't want to wait for our lives to be over. Will it yes or will it be... sorry? 

Então, este texto será recheado de referências à cultura pop americana do final da década de 1990 e começo dos anos 2000, além de requerer um conhecimento específico na área de séries de TV. Então, tá. O negócio é que eu percebi estar acabando um ciclo da minha vida chamado adolescência. Esse ciclo começou quando eu percebi que o da minha infância estava indo embora - o fatídico dia que meu pai deu minha bicicleta para um afilhado dele e eu chorei por ter perdido os adesivos do Pokémon que eu tinha juntando algumas moedas pra comprar uns anos anteriores (hoje em dia eu nem gosto mais de Pokémon) -. Aí começou a adolescência: gostar de RBD e espanhol, começar a ler, prezar pelo conhecimento, querer fazer Letras, começar a ser cult, querer estudar em Divinópolis, ir para o cursinho, estudar no CEFET, ir para Belo Horizonte, estudar na UFMG. Consigo ver tudo isso em um grande bloco temático, das ambições e descobertas. Aí, eu lembro de American Horror Story, cada temporada é uma geração, com tempo, espaço e personagens diferentes, com isso eu posso aproximar minha vida: Douglas (Horror) Story: Adolescência

Todo seriado tem seus enredos, seus plots. Alguns tem protagonistas fortes, outros são comandados pelas tramas e carismas dos personagens coadjuvantes. Alguns personagens ficam de season pra season, alguns atores saem da série, depois voltam... Alguns morrem, numa vibe meio Shonda... De vez em quando o personagem é vivido com dois atores diferentes, tipo Capheus de Sense8... O negócio é que o enredo de um seriado para não perder o público durante tantas seasons deve ser forte.

Dougla's Creek começa em uma pequena cidade interiorana chamada Ermidaside. Douglas tem seus sonhos, é relativamente bom nas coisas que faz e tem até algumas Joey's na vida e o Pacey daquela época era representado por sua família. Jen não existe, porque Jen é adolescente, tão adolescente que ela não existe na vida adulta nem na ficção real. Aí Douglas começa a se relacionar com um mundo adolescente de laboratório chamado CEFET que te prepara para lidar com tudo academicamente, até com um Lattes, mas não te prepara para a vida de fato. Inclusive, pouca gente se atenta a esse fato mesmo depois de mudar de ambiente. 

Vemos aí nessa primeira curva dramática da série o fim do plot de Ermidaside e isso se dá com a introdução do plot CEFET e a adolescência só muda mesmo com o hiperplot chamado Belo Horizonte, que é Boston de Dougla's Creek. Assim como os habitantes de Capeside, os dessa paródia de quarta categoria também acham que estão na vida adulta quando chegam a Boston Horizonte. O que não é verdade, já que nem Dawson's nem Dougla's Creek existem na vida adulta. É apenas ilusão. O que existe é uma experimentação infantil e inconsequente da sexualidade, rascunhos de problemas mais sérios, mas nada se comparado com o tapa na cara de acordar todo dia pagando por seus atos, sejam eles bons ou não. Talvez o papel de Pacey nessa fase seja mostrar para o mundo que esses problemas existem e cá está a família de novo fazendo o papel do Witter mais novo. Essa analogia era inesperada até pra mim. 

Mas aí a Jen morre. Jen, a adolescência em pessoa. A bela. A destemida. A sensual. A srta dedo na cara. O discurso do enterro de Abby Morgan. A rebelde sem causa e se for sem calça é melhor. É a pessoa que mais amadurece na série e a ordem natural das coisas é assim, amadurecer na adolescência até ela acabar. E acabou. Jen morre. Transcende. Acho que estou sendo frio demais sendo que ela é minha personagem preferida. Mas é a lei natural da vida e de Rob Thomas. Impreterivelmente, quando a adolescência morre, a série acaba. 

Minha Jen está morrendo. 

American Douglas History: adolescência também. É o fim do ciclo. Consigo ver um fim palpável   e esperado para todas as coisas que Jen trouxe. Está na hora de me dedicar a outras línguas. Não me vejo trabalhando na área de Letras. As pessoas do CEFET hoje em dia já são lembranças. Enquanto a turma está em Boston, L.A. me parece mais legal e mais certo. A sexualidade não é pra ser mais experimentada, é pra ser assumida. 

Claro que a franquia American Horror Story é o conjunto de cada geração. No enredo uma não tem nada a ver com a outra, a não ser o cunho de horror. Nas minhas gerações, uma não tem nada a ver com a outra, a não ser eu. E eu sou o conjunto de minhas gerações. Está na hora de sentar e escrever uma nova, com novos personagens, com alguns que mantem, mas se transformam, já que tudo é apenas o crossover... 

Mas antes de isso tudo começar, acho que os fãs merecem um especial de natal para fazer a transição: American Dougla's Chile Story. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

e no começo foi buscar
uma maneira de sentir
olhar a luz para seguir
e no começo foi sonhar

hoje é aqui, amanhã lá
hoje é o dia pra começar


chiquititas