domingo, 21 de julho de 2013

Inferno sem-começo-nem-final

Chegou em casa e com um sopro tirou a franja que caía-lhe sobre o olho, já passara a hora de aparar o cabelo. Era tarde. O dia foi cansativo, importante, cheio. Com um ato mecânico, abriu a porta da geladeira e virou aos goles a garrafa de água mineral, mas não estava com sede. Não estava ali. Começou a despir-se ali na cozinha mesmo, não carecia pudor, morava só. Morava com sua sombra. O banho quente não fazia efeito ao seu corpo frio. Ainda assim era possível distinguir as gotas que se jogavam de seus claros olhos das que caiam da máquina. Quem era a máquina? A quem cabia a possibilidade e o direito de errar? De humano ali só as lembranças de um passado que se perdeu e o medo do que havia de vir.

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